Educar o pudor desde a infância

O pudor é uma virtude de valor inestimável que leva a pessoa a não manifestar publicamente sua própria intimidade. Uma personalidade rica em valores para se autoafirmar não necessita revelar a todos a sua intimidade, pois a verdadeira autoestima conduz ao justo amor ao próprio eu.

O sentimento de pudor se manifesta não somente na proteção corporal frente aos olhares alheios, mas também resguarda a pessoa de expor sua interioridade aos curiosos. Torna-se supérfluo o pudor onde se carece de personalidade ou de valores interiores, tal como ocorre com os animais. A falta de pudor manifesta que a intimidade própria é considerada de pouco valor e de tal modo irrelevante que é desnecessário preservá-la.

O valor da própria intimidade

         Um profundo valor antropológico possui o pudor ao defender a intimidade do homem ou da mulher, revelando-a de modo correto, na medida adequada, no momento conveniente e no contexto propício. Agir contrariamente expõe a pessoa ao ridículo de não ser levada a sério, e a não ser considerada com o devido respeito nem por si mesma, nem pelos outros.

A beleza do pudor

         O mistério da pessoa é resguardado pelo pudor, seja na salvaguarda do corpo ou na manifestação de seus sentimentos e pensamentos, orientando aos demais a respeitarem e reconhecerem o que se possui de mais pessoal e íntimo. No referente ao corpo revela-se no rosto, nas mãos, no olhar, nos gestos e no vestuário, que expressa a imagem e o respeito que se pretende que os demais tenham de si. A elegância, o bom gosto, o asseio e o arranjo pessoal surgem como manifestação primeira do pudor. O despudor, ao contrário, leva à grosseria, ao descuido pessoal, ao desrespeito por si, além de manifesta desordem e pobreza interior. O respeito à intimidade própria e alheia permite dar-se a conhecer na justa medida e nos diversos contextos em que a pessoa se move, tornando mais atrativa a personalidade e as relações interpessoais, na medida em que se vão compartilhando as esferas de intimidade.

O exemplo dos pais

         O clima geral de falta de pudor em muitos ambientes torna necessário ter personalidade para manter o tom de modéstia e sobriedade. O bom exemplo é essencial na educação para o pudor. Pai, mãe e os demais adultos da casa, ao se comportarem com recato e modéstia diante das crianças pequenas, revelam dignidade e elegância sem afetação. Os pais podem e devem manifestar o carinho mútuo, mas reservando certas efusões do amor aos momentos de intimidade do casal. O clima de descontração familiar não autoriza um relaxamento nas posturas ou no modo de se vestir: andar seminu ou trocar de roupa diante dos filhos rebaixa o tom humano do lar e convida ao crescente descuido pessoal e ao mau costume de devassar o que é íntimo. Especial atenção se deve ter nas temporadas de calor, pois o clima, os tecidos mais leves e o facto de se estar em férias podem abrir a porta ao descuido. Cada momento e lugar requer um modo de vestir, mas sempre mantendo o decoro.

         O pudor ao abarcar também o campo dos pensamentos e ideias, e se relacionar com a manifestação da intimidade própria, proíbe manifestar o que pertence à intimidade alheia. É pouco nobre e educativo, além de faltar à justiça e à caridade, alimentar as conversas familiares de fofocas, bisbilhotices e confidências sobre a vida dos outro, pois isso faria os filhos se considerem com direito a intrometer-se e falar da intimidade de outros. É importante zelar para que não penetre no lar pela televisão ou por outros veículos de comunicação, programas que fazem revelam a vida das pessoas para satisfazer a curiosidades frívolas e mórbidas de seu público, a fim de ganhar dinheiro com isso. Os pais devem explicar aos filhos que esse “tráfico da intimidade” não deve entrar no lar. Explicar também às crianças que não sejam indiscretas ao revelar aos de fora, sejam parentes ou amigos, aquilo que pertence à intimidade do lar.

Desde a infância

         Nas questões de educação cada detalhe é importante. A fim de se acostumar a valorizar a esfera privada dos demais, e a descobrir a própria, desde a primeira infância uma das tarefas formativas é consolidar hábitos que mais adiante facilitarão o desenvolvimento da virtude da castidade e do pudor, que vão se despertando na criança à medida que gradativamente descobre a sua própria intimidade. Pequenos detalhes colaboram para construir uma intimidade rica: vestir as filhas adequadamente, e não com poucas roupas ao sair à rua; não achar graça se a criança correr pela casa à modo de Adão ou Eva no Paraíso, a fim de desincentivá-la a repetir tal comportamento: sem dramatizar, corrigir com carinho e esclarecer que não se comportou bem. Ensinar a criança a se lavar sozinha e não à vista dos irmãos; ao trocar de roupa por si mesma, fechar a porta do quarto; trancar a porta do banheiro ao entrar para utilizá-lo; bater à porta do quarto dos pais e irmãos e esperar a resposta para entrar; não bisbilhotar nas gavetas e armários dos outros. Esses bons hábitos vividos desde a infância facilitarão a entrada na adolescência e juventude com sensibilidade, respeito pelo próprio corpo e comportamentos virtuosos.

         Educadas com tal sabedoria, as crianças aprendem a respeitar a intimidade própria e a dos demais, e crescem com sensibilidade para os assuntos profundos da alma e de intimidade com seu Pai Deus. Pouco a pouco abandonam o natural egocentrismo e descobrem que os outros merecem ser tratados como elas gostam de ser tratadas.

Texto adaptado por Ari Esteves com base no capítulo “Educar no pudor (I): os primeiros anos”, J. De la Vega, no e-book “Educação em família”, 21 temas atuais, disponível gratuitamente em https://opusdei.org/pt-br/article/livro-eletronico-sobre-a-educacao-dos-filhos/J Imagem de Nataliya Vaitkevich.

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Ari Esteves

Ari é Advogado (USP-Largo São Francisco), licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional, licenciado em Letras pelo Centro Universitário Claretiano e pós-graduação em Mediação de Conflitos Escolar e Familiar (Universidade de Fortaleza). É editor do Boletim Pedagogia do Comportamento, e autor do livro Família em Contos: os Larletos, Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2009.

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Ari é Advogado (USP-Largo São Francisco), licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional, licenciado em Letras pelo Centro Universitário Claretiano e pós-graduação em Mediação de Conflitos Escolar e Familiar (Universidade de Fortaleza). É editor do Boletim Pedagogia do Comportamento, e autor do livro Família em Contos: os Larletos, Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2009.

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