Faça-os ler! Para não criar cretinos digitais

Em sua obra “A fábrica de cretinos digitais”, Michel Desmurget traz muitas pesquisas sobre o perigo das telas para as nossas crianças. Em seu livro seguinte, “Faça-os ler! Para não criar cretinos digitais”, o autor apresenta soluções para afastar o público infantil da chupeta eletrônica, sendo uma delas a leitura compartilhada, que ocorre quando os pais, irmãos ou avós leem para os pequenos.

Afirma Desmurget que as crianças entram em contato com os livros muito antes de saber ler, seja pela leitura compartilhada ou quando fingem que estão lendo e no manuseio de livros ou álbuns com figuras, etc. Tais encontros com os textos, se incentivados, têm um impacto duradouro e profundo no desenvolvimento da criança: inserem o livro e a leitura nos hábitos cotidianos, preparam o cérebro para o pensamento profundo e para as exigências das futuras aprendizagens formais, familiariza os neurônios para as complexidades e singularidades dos textos.

         Crianças, e mesmo os pré-adolescentes, gostam de que leiam histórias para elas. Para a criança se tornar leitora é imperativo que seja exposta precocemente aos livros, e tudo se inicia pela leitura compartilhada, que tem duas raízes: uma emocional, onde a criança sente que é um momento especial, mágico, alegre, de calor humano; a segunda é o desenvolvimento da linguagem, o enriquecimento da imaginação, a melhora dos resultados escolares.

         Até os 6 anos de idade concordam os pais que a leitura compartilhada é essencial. Porém, quando as crianças aprendem a ler, por volta dos 6 ou 7 anos, deixam de ler para elas porque creem que estão com idade para fazerem isso sozinhas, e porque pensam que a interrupção da leitura compartilhada irá favorecer a “leitura autônoma”, e com tais pensamentos deixam de supervisionar e incentivar as atividades literárias dos filhos. Em pesquisa citada por Desmurget, muitos adolescentes afirmaram que teriam gostado que seus pais continuassem com a leitura compartilhada. Na verdade, longe de se excluírem, os hábitos de leitura individual e compartilhada se fortalecem quando se somam.

         Quanto mais uma criança é exposta à leitura compartilhada, mais ela tende a ler sozinha, independentemente da idade. Os pais que cessaram de ler histórias para os filhos, ao pensar que com isso promoveriam a autonomia e a prática da leitura individual, logo constataram que isso não ocorreu. Na fase pré-escolar é muito importante a leitura compartilha, e poucos são os pais que leem todos os dias para seus filhos, nem incentivam os irmãos mais velhos a fazerem isso para os menores.

         As telas digitais vêm roubando não apenas os momentos de leituras, mas também as interações familiares. Para crianças de 0 a 5 anos, um estudo estabeleceu que a cada hora diária de televisão, que é a principal tela nessa faixa etária, elimina 40 a 50 minutos de interações humanas. Da mesma forma foi demonstrado que entre crianças em idade pré-escolar (3-5 anos), a leitura compartilhada é um terço menor que o consumo diário de telas (essa pesquisa envolveu por três anos milhares de crianças nos EUA). Desses dados surgiram duas conclusões: quanto mais as crianças consumem telas aos 24 meses, menos elas são expostas à leitura compartilhada aos 36 meses; quanto menos as crianças são expostas à leitura compartilhada aos 36 meses, mais elas consumem telas aos 60 meses. Ou seja, a primazia do digital sobre a leitura se revela no tempo diário dedicado às telas digitais: entre 0 e 5 anos, as telas recreativas consomem quatro vezes mais tempo do que os livros.

         Ao chegar no primeiro ano do ensino fundamental, o afastamento da leitura familiar traz sérias dificuldades ao aprendizado dos filhos. A mensagem é clara: o uso recreativo de dispositivos digitais reduz significativamente o tempo da leitura compartilhada. Certa pesquisa recente, citada por Desmurget, concluiu que “o lugar ocupado pela leitura na infância tem um peso [leia-se consequência] significativo na vida adulta”. Apesar dos pais reconhecerem a contribuição fundamental de lerem para as crianças, poucos o fazem. A maioria dos lares ao invés de livros estão infestados de telas recreativas, que monopolizam o tempo livre dos filhos e causam inúmeros vícios e travamentos no desenvolvimento comportamental, psicológico e intelectual.

         O esforço dos pais para se tornarem leitores habituais incentivarão os filhos a imitá-los.

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Ari Esteves

Ari é Advogado (USP-Largo São Francisco), licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional, licenciado em Letras pelo Centro Universitário Claretiano e pós-graduação em Mediação de Conflitos Escolar e Familiar (Universidade de Fortaleza). É editor do Boletim Pedagogia do Comportamento, e autor do livro Família em Contos: os Larletos, Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2009.

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Ari é Advogado (USP-Largo São Francisco), licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional, licenciado em Letras pelo Centro Universitário Claretiano e pós-graduação em Mediação de Conflitos Escolar e Familiar (Universidade de Fortaleza). É editor do Boletim Pedagogia do Comportamento, e autor do livro Família em Contos: os Larletos, Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2009.

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