A alegria de servir aos demais

Não nascemos para viver isolados e preocupados apenas com o nosso umbigo. Ao lavar os pés dos apóstolos, Cristo nos ensinou a servir aos demais. Muitas vezes procuramos a felicidade buscando ser servidos pelos outros, mas ninguém pode ser feliz sendo egoísta.

O espírito de rivalidade, inveja, ciúmes, suscetibilidades e rixa cura-se com a virtude do amor, também chamada de caridade. Um modo de crescer no amor é atentar-se às necessidades dos demais, que é próprio de quem possui espírito de serviço.

         É preciso aprender a fazer o bem. A liberdade humana degrada-se quando se cede demasiadamente às facilidades da vida e se tapa os olhos às carências materiais e espirituais dos que estão ao nosso redor. Quem se assusta ao ouvir falar em servir pode estar dominado pelo egoísmo de pensar apenas em si, em seus próprios interesses.

         O que mais custa ao homem moderno é desprender-se do seu tempo para dá-lo aos outros. Doar-se quando se espera conquistar algo é mais fácil, e na vida social muitas ações estão embasadas não em obras de amor, mas no tome lá, dá cá ou network. Ao visitar uma pessoa doente, ao adiantar-se para ajudar nas tarefas domésticas, ao colaborar em uma ONG que cuida de idosos, crianças ou jovens, ao organizar atividades de formação humana e cultural para aproximar conhecimentos a quem os necessita, entre tantas outras obras, são iniciativas que tornam feliz a quem as pratica, pois se livra dos tentáculos do egoísmo, sempre causa de tristezas.

         “Ser o último em tudo, mas o primeiro no Amor” (Caminho 430) é a receita para ser feliz e evitar os caminhos de egoísmo: –“Puxa, só eu recolho os pratos da mesa!”. Bento XVI escreveu em Deus caritas est, n. 18: “Só a minha disponibilidade para ir ao encontro do próximo e demonstrar-lhe amor é que me torna sensível também diante de Deus. Só o serviço ao próximo é que abre os meus olhos para aquilo que Deus faz por mim e para o modo como Ele me ama”.

         Todos temos a experiência de que não é fácil fazer da vida um serviço. Porém, quem se aventura nesse caminho descobrirá a fonte de alegria que talvez falte em sua vida. O espírito de serviço é expressão do amor fraterno, e “O amor fraterno só pode ser gratuito, nunca pode ser um pagamento a outrem pelo que realizou, nem um adiantamento pelo que esperamos que venha a fazer” (Encíclica Laudato si).

         O espírito de serviço nos aperfeiçoa moralmente, porque nos faz exercer o ato mais sublime da vontade, que é amar, e o amor aperfeiçoa as demais virtudes: a fortaleza sem caridade leva à prepotência ou à vilania; a justiça sem caridade conduz à arrogância. Quem perde a oportunidade de servir por egoísmo até pode crescer em outro aspecto da sua vida (por exemplo, o profissional), mas haverá regressão moral em seu comportamento.

         Platão e Aristóteles viam maior perfeição na inteligência do que na vontade, porque acreditavam que a inteligência mais assemelhava o homem à divindade ao permitir a contemplação das verdades eternas e imutáveis. Porém, o cristianismo, ao contrário, vê que o homem mais assemelha-se ao divino porque pode doar-se totalmente, como Cristo. Uma das categorias fundamentais da visão cristã é a noção do outro, necessária para a doação desinteressada e crescimento no amor. E o que torna possível a doação ao outro é a vontade, núcleo onde reside o mais íntimo da pessoa: não basta apenas a boa vontade ou o desejo de ajudar, nem somente perceber com a inteligência as necessidades do próximo, pois “obras é que são amores, não boas razões”. Ou seja, é necessária a decisão e a ação de doar-se, atitudes que cabe à vontade.

         Quem ama verdadeiramente sempre está atento à vulnerabilidade e às necessidades dos demais. Todos somos indigentes e não subsistimos sozinhos. A dor, a doença, o cansaço, a ignorância, a pobreza, a falta de uma profissão, etc, são mais fáceis de ultrapassar com a ajuda dos outros, pois ninguém é autossuficiente. Quem ajuda a suprir tais necessidades são os verdadeiros construtores da paz e “serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).

         A educação para a generosidade deve ser ensinada às crianças desde as primeiras idades, prosseguindo na adolescência e na juventude. Os pais devem atribuir aos filhos encargos no lar adaptados à idade e capacidade de cada um; sugerir que doem às crianças carentes os brinquedos ou jogos em bom estado que já não utilizam; visitar com eles orfanatos ou asilos e levar alguns doces. Os filhos sentirão a alegria de servir e crescerão em generosidade ao ver que seus pais são exemplares e caminham na frente nesses aspectos.

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Ari Esteves

Ari é Advogado (USP-Largo São Francisco), licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional, licenciado em Letras pelo Centro Universitário Claretiano e pós-graduação em Mediação de Conflitos Escolar e Familiar (Universidade de Fortaleza). É editor do Boletim Pedagogia do Comportamento, e autor do livro Família em Contos: os Larletos, Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2009.

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Ari é Advogado (USP-Largo São Francisco), licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional, licenciado em Letras pelo Centro Universitário Claretiano e pós-graduação em Mediação de Conflitos Escolar e Familiar (Universidade de Fortaleza). É editor do Boletim Pedagogia do Comportamento, e autor do livro Família em Contos: os Larletos, Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2009.

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