Pai e filha: dicas para o relacionamento

Pai de filha adolescente tem que ter muita sensibilidade para lidar com ela. O curto-circuito ocorre se o pai é exigente, rígido e com frequentes rompantes explosivos diante de pequenas faltas de pontualidade, notas baixas…

Se o pai for mais disciplinador do que educador, mais dogmático do que afetivo e com dificuldades na comunicação, a filha manifestará problemas de insegurança devido ao medo de errar, incapacitando-a para tomar decisões pequenas ou grandes, terá dificuldades para se abrir ou interagir com os outros, e não saberá ver a Deus como Pai.

         Certa adolescente ouviu o pai dizer que se ela um trouxesse em casa algum garoto, o expulsaria imediatamente. A partir daí, a filha deixou de abordar temas como meninos, namoro, casamento, sexualidade, por considerá-los tabus, dada a agressividade do pai. Por que esse pai agiu com tanta estupidez, se é justamente na família o lugar seguro onde se pode falar de tudo; se é no diálogo entre pai e filha que muitos conceitos são apreendidos e levados à vida! Sendo normal na adolescência questionar sobre muitos valores, os pais devem criar canais abertos de diálogo. Um pai compreensivo e carinhoso possibilita que a filha expresse o que pensa, sem receio de levar bronca ou sermão. Uma adolescente necessita de um pai que a ouça muito, fale menos e ofereça conceitos sólidos que transmitam segurança, pois tais atitudes a estimulará a abordar questões que a inquietam.

        Se o pai dialoga pouco, se não procura a filha para conversar e não se interessa pelo universo dela, cria barreiras e distâncias difíceis de se superar. As adolescentes necessitam falar para demonstrar o que sentem e se queixam muito quando o pai não sabe responder às suas perguntas e inquietações. É imprescindível que o pai se prepare para interagir com a feminilidade de sua filha em desenvolvimento, tendo em conta que sua postura manifestada na presença, diálogo, sorriso, autoridade, saber ouvir, corrigir, valores e afetos darão o tom para que ela se sinta segura e compreenda o que é a verdadeira masculinidade, que também desejará encontrar naquele com quem futuramente pretender formar uma família.

         Pai ausente que compensa a falta de carinho presenteando a filha com objetos materiais, a tornará insegura e afetivamente instável. A carência afetiva nasce quando a filha não se sente amada, admirada, corrigida e guiada pelo seu pai. E assim vulnerável, ela buscará afetos em amigas, moda, imagem corporal, grupos de jovens duvidosos, namorado sem qualificações, etc.

         Um pai que dá pouca autonomia porque não sabe transmitir valores para que a filha os compreenda profundamente e saiba agir bem por conta própria, mas afoga a liberdade, mesmo que atenda a todos os pedidos da filha ao buscá-la em todos os lugares e a qualquer hora que ela determine, dificultará na filha o entendimento da autoridade e não a ensinará a tomar decisões por conta própria.

         Um pai débil que se submete aos caprichos de uma filha, renuncia ao exercício da paternidade, tão necessário e orientativo para ela, que não terá onde se apoiar afetiva e moralmente, permanecendo com dúvidas e sem critérios para a vida. Uma das dificuldades dos pais atuais é exigir que seus filhos se esforcem. As adolescentes crescem em idade corporal, mas são imaturas e psicologicamente frágeis: elas exigem muito dos pais, mas não se autoexigem e constroem uma personalidade fraca, mesmo tendo potencial para mais. Pai que tem “dó” de ver a filha se exigir, poupando-a de esforços e oferecendo recompensas, tornará a filha molengona e a impedirá de desfrutar das verdadeiras vitórias, auferidas com o esforço. A adolescência é a idade do vigor, do gastar energias para ideais que valem a pena. É importante exigir da filha, dentro das possibilidades dela, para que seja mais feliz. Para ganhar o campeonato de vôlei da escola, a filha terá que se exigir nos treinos e renunciar a séries, novelas, perdas de tempo nas redes sociais, etc. A conquista de um bem árduo será para ela a melhor das recompensas. Certa filha ia saindo para uma festa com um vestido recém comprado, e quando seu pai a viu com um vestido muito curto, disse que ela não iria à festa vestida daquela maneira. A filha retrucou, argumentou, mas ao perceber que não alteraria o parecer do pai, trocou de vestido. No dia seguinte, comentou com o pai que compreendeu a atitude dele, pois suas amigas, que não souberam respeitar-se a si mesmas, também não foram respeitadas pelos demais colegas.

         Medidas para o pai construir uma relação saudável e forte com sua filha:

  1. Interessar-se vivamente pelas coisas dela, mesmo que ela aparente apatia ou distância;
  2. Escutar ativa e empaticamente, cuidando o olhar e o tom de voz. Ela necessita manifestar inquietações existenciais (sentido da vida, vocação humana, amizades, Deus…). Se por vezes sua filha se exalta e tem muita flutuação no humor, saiba que isso é normal;
  3. Dar abertura para a filha abordar temas de sexualidade, família, afetos, sentimentos, sonhos, dúvidas, desassossegos;
  4. Filhas adolescentes fazem perguntas sobre temas existenciais e passam bom tempo encerradas em si mesmas, mas quando resolvem falar necessitam de um pai interessado em ouvi-las e que saiba orientar;
  5. Uma adolescente tem pouco conhecimento de si própria, é insegura e não sabe bem por onde seguir, sendo importante ouvir do seu pai os pontos fortes que ela possui, a fim de os conhecê-los e potencializá-los, o que a fará crescer em autoconfiança. Indique também os pontos frágeis para que ela se esforce em lutar contra eles, contando com sua ajuda, paizão;.
  6. Saia com sua filha, e só com ela, para que se sinta valorizada pela companhia do pai;
  7. Nunca diga palavras que firam sua filha, pois deixarão marcas na alma dela e a desencorajarão para enfrentar a vida: tenha sempre presente que meninas são mais sensíveis do que meninos;
  8. Seja para a sua filha um misto de força, coerência e ternura;
  9. Sua filha, embora não o demonstre, tem profunda necessidade de referências, de exemplos de vida, de conhecer pessoas que são felizes por serem coerentes;
  10. Tenha presente que sua filha projetará seu futuro marido com base em você, pai, que representará para ela a verdadeira masculinidade.

         Os pais continuam a ser a principal referência da filha, mesmo que ela seja muito influenciada pelo grupo social ao qual pertence e as amigas ocupem lugar de destaque na vida dela.

Texto de Ari Esteves para o site www.ariesteves.com.br. Imagem de Mikhail Nilov

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Ari Esteves

Ari é Advogado (USP-Largo São Francisco), licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional, licenciado em Letras pelo Centro Universitário Claretiano e pós-graduação em Mediação de Conflitos Escolar e Familiar (Universidade de Fortaleza). É editor do Boletim Pedagogia do Comportamento, e autor do livro Família em Contos: os Larletos, Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2009.

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Ari é Advogado (USP-Largo São Francisco), licenciado em Pedagogia pelo Centro Universitário Internacional, licenciado em Letras pelo Centro Universitário Claretiano e pós-graduação em Mediação de Conflitos Escolar e Familiar (Universidade de Fortaleza). É editor do Boletim Pedagogia do Comportamento, e autor do livro Família em Contos: os Larletos, Editora Cultor de Livros, São Paulo, 2009.

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